Tornou-se erronamente estabelecido que religião e ciência são campos de conhecimento opostos. Esse equÃvoco fomenta a conhecida discórdia entre ciência e religião desde a Idade Média, persistindo nos nossos dias no inútil debate entre correntes teológicas e cientÃficas.
Uma ideia, verdade ou descoberta dita cientÃfica é sempre associada a uma certeza sobre a qual não se pode duvidar, pois foi certamente obtida através de um grande esforço intelectual, validado e testado por pessoas e instituições. Carregar o epÃteto de “cientista” significa o reconhecimento de que a pessoa é inteligente e de QI elevado, conectada com o que há mais de moderno no mundo.
Na religião, dizem os cientistas, não se encontra qualquer rigor investigativo. Se o sujeito é religioso é por uma questão meramente de fé, de algo que se crê sem compreender bem o porquê. A religião é fonte de um conhecimento inacessÃvel à crÃtica, baseado em um senso comum popularesco, voluntarista e de fácil assimilação – é o que muitos pensam.
Na verdade, tanto o que se chama de ciência quanto o que se chama de religião ocupam-se com o mesmo objetivo: o conhecimento. Enquanto as ciências naturais procuram investigar o mundo que sensibiliza os sentidos, a Religião se ocupa de investigar o que ninguém pode ver, cheirar ou pegar, nem com os mais avançados instrumentos. O trabalho da busca do conhecimento de Deus pela via cientÃfica, com uso dos instrumentos adequados, exige exaustivos esforços e refinada sabedoria, tal como nas demais ciências.
Através do esforço intelectual, o cientista das ciências da natureza busca trazer ao domÃnio da consciência, através de investigação diligente e metódica, os fenômenos percebidos pelos sentidos, desvendando o que o senso comum ignorava ou tomava como um mistério. Embora imperfeita, a aplicação prática das ciências da natureza é realizada sob margem de erro mensurável – do contrário, o ser humano não teria ido à lua e ninguém entraria num avião.
A essência das coisas, contudo, não pode ser percebida pelos instrumentos e técnicas usadas pela ciência da natureza. Nem mesmo a razão analÃtica, instrumento da filosofia, pode alcançar a “a coisa em si”, como bem atestou Kant.
Quando se diz que um conhecimento é cientÃfico significa que ele foi adquirido “com a ciência”, passado ao domÃnio da “cons-ciência”. Uma vez que foi tornado cons-ciente, tal conhecimento independe de tradição, boa vontade ou crença.
A Ciência da Religião ocupa-se em trazer um determinado conhecimento ao domÃnio da consciência, a Verdade sobre questões insondáveis aos sentidos e aos instrumentos das ciências da natureza – a essência do mundo e das pessoas. Quem se ocupa com a busca de Deus através da Ciência da Religião, torna-se “cons-ciente” dEle, ciente e certo da Sua existência e da Sua atuação.
O objetivo da Religião é o mesmo de muitas correntes filosóficas, alcançar o Absoluto, diferindo, porém, na metodologia. Enquanto a Filosofia busca refinar suas conclusões pela intensa especulação intelectual, a Religião se baseia nas conclusões dos cientistas que partiram do Absoluto já conhecido, podendo afirmar, como Jesus: “dissemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos” (Jo 3,11). Tais cientistas espirituais não atuam como especuladores, mas como educadores que ensinam o que conhecem com profundidade.
A Ciência da Religião é baseada em objetivos, critérios e metodologias próprias. Do mesmo modo que os intrumentos da ciência quÃmica diferem daqueles utilizados na matemática, os instrumentos das ciências da natureza não servem para a Religião. Os cientistas da Religião ensinam com metodologias especÃficas, universalmente válidas para todas as culturas e eras. Quem procura, acha !
Tentar utilizar os instrumentos das ciência da natureza para investigação da Religião, e vice-versa, é um erro fatal, causa de discussões improfÃcuas e sem valor cientÃfico.
Mas como encontraram Deus aqueles que o buscaram pela primeira vez ?
“Como passo inicial fecharam os olhos para interromper o contato imediato com o mundo e a matéria, de modo a poderem concentrar-se mais plenamente em descobrir a Inteligência subjacente a ela. Pelo uso da razão, compreenderam que não poderiam contemplar a presença de Deus no seio da natureza por meios das percepções ordinárias dos cinco sentidos. Assim, começaram a tentar senti-Lo dentro de si mesmos, por meio da concentração cada vez mais profunda. Acabaram descobrindo como desligar os cinco sentidos, desse modo afastando por completo, temporariamente, a consciência da matéria. O mundo interior do EspÃrito começou a abrir-se. Deus finalmente revelou-Se a esses seres magnÃficos da Ãndia antiga que persistiram firmemente nessas investigações internas”, escreveu Paramahansa Yogananda, no livro A Eterna Busca do Homem.
A meditação é o instrumento por excelência da Ciência da Religião.
Falo mais sobre o assunto no artigo “Fundamentos da Ciência da Religião”: http://www.gigamedia.com.br/loja/downloadx.asp?cmd=55