Sobre a cientificidade da religião

Não faz sentido o caráter “não racional” atribuído às questões espirituais. Vivekananda argumenta que o autor primário da razão não pode Ele mesmo deixar de ser racional e racionalizável. A irracionalidade verificada na prática religiosa tradicional que, em geral, nem se interessa pela questão, não pode comprometer o caráter das injunções originais dos Avatares, portadoras da mais alta racionalidade.

A essência básica da ética cristã, incluindo a regra de ouro, possui em si mesma uma racionalidade de alta visibilidade no mundo. A aparente irracional e ilógica ação de Gandhi, de caráter religioso, levou a humanidade a uma esfera superior de razão na forma de lidar com um adversário.

Vamos evitar nos apegar às palavras e à forma popular de sua interpretação e perguntar: O que é ciência ?

Ciência é arte de se tornar “cons-ciente” de um saber, aplicando esforço e método para alcançar a “cons-ciência” dele. Quem faz ciência, está em busca de se tornar ciente, “cons-ciente” de algo. Ciência não é uma organização humana, mas uma atitude a impregnar a essência do ser manifestado. Os cientistas espirituais dizem há 5.000 anos que o ser manifestado aspira, essencialmente, à existência, à cons-ciênca e à felicidade (Sat-Chit-Ananda).

Tais atributos constituem a base dos chamados instintos primários, a programação vital de toda as classes de seres vivos. A necessidade de ciência é universal, própria do ser que se manifesta em um mundo fenomenal. Seja aqui ou em qualquer galáxia onde habitem, encontram-se os seres vivos ancorados nesse padrão essencial. Ciência, portanto, não está restrita ao estudo de um determinado livro ou na frequência de um organismo humano chamado universidade.

Até o analfabeto que segue um itinerário qualquer e descobre, depois de 3 tentativas, um atalho mais rápido para o destino está fazendo ciência. Embora ele não esteja praticando uma ciência formal, evidencia espontaneamente com suas tentativas e descoberta um método científico em ação.

O equívoco da religião é penetrar no campo das ciências humanas com seus instrumentos e vice-versa. Isso promove discussões improfícuas nos dois campos, como tenho afirmado.

A religião não aspira ao patamar científico contemporaneamente. Ela é científica em si mesma porque tem o conhecimento como objetivo. “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” é uma das mais conhecidas afirmativas de Jesus.

Tal sentido científico para a religião é bastante ignorado, buscando a maioria dos caminhos religiosos soluções fora de um método científico.

A tentativa de penetrar no espaço de ciências alheias, opinar e conceber juízos de valores sobre ela, sem a necessária investigação das suas técnicas, dos seus métodos e sem o apoio dos seus pesquisadores, isto sim é uma atitude carente de cientificidade.

Quem busca com seriedade e cientificidade o conhecimento de Deus não fica sem respostas.

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